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Foi uma manhã especial, de fortalecimento de discursos, de trocas francas de experiências e de sentimentos, de sororidade. No evento “Ser Mulher: Nós Podemos”, o papo foi descontraído e sério, simples e sofisticado, e a mensagem aberta e inequívoca: o Dia Internacional da Mulher, comemorado mundialmente hoje, dia 8, é simbólico de uma luta histórica cuja concretude deve ser conquistada e garantida diariamente por todas e todos, nas diversas instâncias da sociedade, para que a mulher se empodere e conquiste mais e maiores espaços sociais, sejam eles políticos, artísticos, culturais, técnicos e outros. “Precisamos ensinar a nossos filhos o que significa o feminismo e esse Dia. Não queremos ser iguais aos homens, queremos ter os mesmos direitos”, afirmou a coordenadora do Centro de Apoio Operação em Defesa dos Direitos Humanos (Caodh), promotora de Justiça Márcia Teixeira na abertura do evento. No bate-papo, a procuradora-geral de Justiça Ediene Lousado; a secretária de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), Olívia Santana; e a jornalista e apresentadora Rita Batista compartilharam vivências, percepções e reflexões sobre a condição de mulheres em postos de prestígio social e político numa sociedade ainda machista e misógina.
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A mediação foi realizada pela coordenadora do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher e da População LGBT (Gedem), promotora de Justiça Lívia Sant'Anna Vaz, que também compartilhou experiências. Na ocasião, ela lançou a cartilha 'Mulher, vire a página', produzida em comemoração aos dez anos de atuação do Gedem. Ao abrir o papo, a promotora citou os sete princípios do empoderamento ONU Mulheres e pediu às convidadas que falassem sobre suas trajetórias e posições de empoderamento, mostrando o que, de fato, é “coisa de mulher” - expressão utilizada por usuárias nas redes sociais para demarcar a importância social e histórica das mulheres, a partir de exemplos emblemáticos como Maria da Penha, Frida Kahlo, Dandara, Mercedes Baptista e Harried Tubman.
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A procuradora-geral Ediene Lousado falou sobre o que é ser a primeira chefe do MP baiano em 400 anos de história. “Todos os dias tenho que provar que sou competente. Não tem sido fácil. Às vezes me pergunto se está valendo a pena. Mas toda vez que vou a um evento e participo de uma mesa repleta de homens, só por isso, sei que já valeu a pena. Temos que lutar por espaço, ainda que para isso tenhamos que nos desdobrar”, afirmou. A PGJ falou também de como resistiu e lutou contra repressões machistas ao contar como provocou a mudança, ainda criança, do hábito de sua família no interior baiano de as meninas lavarem as botas sujas dos homens, pai e irmãos, após a volta deles do roçado. “Apanhei, mas isso foi desinstitucionalizado. Hoje meu pai e minha mãe seguram a bandeira feminista, do que me orgulho muito”, disse.
A secretária Olívia Santana chamou atenção para o desemprego atual que “castiga a população e mais severamente as mulheres, principalmente neste momento de crise econômica e política”. Ela criticou a reforma da Previdência como um ataque aos trabalhadores, em geral, e em especial às mulheres. “Essa fixação de 65 anos, como idade mínima para a aposentadoria, não leva em conta a dupla jornada das mulheres, como também não entra na conta a realidade do trabalhador rural. Sumiram com as desigualdades de gênero, raciais e regionais”, afirmou. Sobre a participação na política, sua área de atuação, Olívia Santana destacou que as mulheres são 51% do eleitorado, mas isso não reflete na representação política institucional, sobretudo nas casas legislativas (a da Bahia, por exemplo, conta apenas com sete deputadas eleitas diretamente e uma suplente). “Nós mulheres podemos mudar a paisagem do poder”, advertiu.
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A jornalista Rita Batista ressaltou a importância da luta feminista em todas as frentes e de forma perseverante. A apresentadora destacou o papel político do ativismo virtual, como um dos reflexos do “novo fôlego que o feminismo tomou nos últimos tempos”, citando o 8M, um movimento grevista internacional articulado por meio das redes sociais que conclamou as mulheres a não executar no dia de hoje as múltiplas tarefas desempenhadas cotidianamente. Ela lembrou que os avanços de hoje são devedores de uma história de luta. “Mais de 100 mulheres não morreram à toa em 1911 na luta por direitos trabalhistas”, disse em referência ao desdobramento trágico de um movimento grevista de trabalhadoras em uma fábrica de Nova Iorque no início do século XX. Rita Batista destacou a importância da solidariedade (sororidade) entre as mulheres, sobretudo na denúncia de casos de violência doméstica, e dos homens aderirem à luta. No final do evento, foi sorteado um brinde e a premiada foi a funcionária terceirizada Kátia de Oliveira.
Cecom/MP
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